sexta-feira, 23 de outubro de 2020

O desajeitado da feira

 Comprando laranja pela feira percebia que um certo atendente desajeitado, um cara com seus cinquenta anos com cabelos brancos e parecia ser alguém um desvio mental, em sua face denunciava seu semblante de sofrido. Pois bem, ele sempre escolhia sem qualquer cuidado alguma laranja machucada no meio de tantas brilhosas com a casca como um espelho, por isso eu não dava o trabalho de eu mesmo escolhê-las. Esse descuido do vendedor me irritava profundamente e ele com seu ar triunfal de bom trabalhador se prontificava aos que se aproximavam:

-O senhor já foi atendido? A senhora já foi atendida?confere aí se o troco está certo...

Não me dando o trabalho de escolher as laranjas, sempre deixava-os os especialistas escolher. Há quatro atendentes para duas barraquinhas de feira e o chefe gordo como um leitão que fica atrás da barraca fazendo o trabalho de caixa, alheio aos acontecimentos, dava ordens esporádicas. Um  atendente o qual catava as ótimas  laranjas com todo cuidado agora fingia a trabalhar arrumando as laranjas pelas bancadas e nessa sobrava o uma senhora atenciosa dedicada, mas quando ela estava ocupada me aparecia e o tal desajeitado. E me vem um voz interna a reivindica sair de mim " não quero ser atendido por ele"!E sem explicar o porque, solicitava outro.

 Nunca tive a coragem de fazer isso, talvez por pena dele. Preferira conferir no saco as laranjas machucadas e reclamar com ele. Acho que como um bom brasileiro que vive a realidade e pra não arrumar uma discussão uma voz interna me diz "deixa pra lá"...

Pensei no sentimento de revolta no atendente e o mal estar  que esse meu pedido iria gerar. Certamente o atendente iria pensar que eu era um cara intransigente e a raiva iria aumentar nele toda hora que eu aparecia e blá blá blá...Bom, deixei o barco andar..

Foi então que ele me entregou o saco com a laranjas conferi e pronto. Estava lá: uma laranja toda deformada, mutilada. E eu falei com toda ripidez:

-Troca essa laranja toda arrebentada. E ele sem querer perder a razão:

- É só a casca, ela tá boa..Ela tá boa, é só a casca, é so a casca. 

Essa é verdade dele. Se eu estiver contrário a isso, será a briga da minha verdade contra a dele. Para ele não importa escolher o que há de melhor para o cliente, importa servir simplesmente. O ambiente que o rodeia é assim, sem exigências, sem regras... 

Trocou por uma laranja bem melhor e de quebra me deu a machucada, já que uma voz do patrão em seu inconsciente soou"  cliente sempre tem razão...", o "cliente sempre tem razão.

Depois de alguns dias, abri o meu presente dado por ele: a laranja mutilada. Ela estava um terço do tamanho normal, mas realmente estava boa por dentro, mas era uma laranja lima...Não era a que pedi, mas serviu...







 

beleza pura

 um ímpeto me toma quando aprecio as imagens das mais belas e delicadas mulheres

mesmo por vestígios em fotos que me confirmam que apesar de uma idealização que tenho

elas existem em algum lugar perdido como os tesouros mais profundos

essa brilhosas mulheres  dão a cor florescente e afinam ao meu espírito

uma paz espiritual me acalma, me relaxa quando me depara com elas em fotos ou em pesamentos,

já esbarrei com algumas na vida real, mas distantes permaneceram

adormeceram no meu sonho e vez ou outra voltam  a me rondar 

a me pertubar, a mexer comigo quando não dou bola a elas

como uma assombração prazerosa não me dão sossego,

só por um momento mergulho no presente, só por um momento,

respiro a pureza límpida dos vestígios de luz

e diante da negativa que os momentos não descansam no infinito

volto em meio a realidade que já não é-me o presente, 

mas sim um futuro

saio purificado do futuro presente que revive...

  

terça-feira, 6 de outubro de 2020

os idiotas incomodados no zap

Parei para pensar sobre o porquê eu fiquei incomodado por ser expulso do grupo de zap duas vezes. Talvez seja porque não estou tão acostumado em ser rejeitado. Uma vaidade que precisa urgentemente ser extirpada , como uma erva daninha, pois essa vaidade só infla meu ego, esvazia-o.

Lembro-me da primeira vez que  tinha criado um grupo para amigos de carnaval. Nele havia um rapaz que eu não conhecia bem, mas que ficou meu amigo num dia de carnaval. Acrescentei ele no tal grupo. O carnaval quase no fim, e um amigo se incomodava por este rapaz não interagir no grupo de zap. Uns dias se passaram, e ele pediu para ele expulsá-lo por esse rapaz não interagir. Nao falei nada, simplesmente deixei, mesmo que não tivesse de acordo com a atitude autoritária desse amigo que o tirou.

Passou mais um tempo e fiquei incomodado de ter deixado o Filipo  expulsar o André. Certo dia lhe enviei um msg no FB para talvez me redimir, já que eu me achava culpado. Ele simplesmente não respondeu e rejeitou um meu tal perdão. Imaginei logo que ele ficou chateado comigo por estar no grupo que o expulsou. 


Depois de um tempo, eu era a vítima da expulsão. A primeira foi por me manifestar num grupo de banda de carnaval, já que eu não me manifestava por não ser de grupinho, nem ser ex-aluno da sala deles, e muitos não me conheciam. Também não me inteirava tanto com esses amiguinhos de colégio, somente com alguns. Bem, fiquei chateado por não participar do dia do desfile, apesar de poder ir, já que a rua é pública. Mas minha atitude foi de resignação aos egos inflados que são os bobos da corte do carnaval do rio.

A segunda foi de um grupo de amigos de infância do condomínio. Alguns se incomodavam por eu não interagir. Sentiam talvez que algum espião os observava. Realmente, não interagia porque não convivia com eles fazia tempo, por distanciamento naturais da vida, entretanto eu levava comigo uma consideração por passarem a infância comigo. Para mim foi ótimo , pois sempre quis sair desse grupo e não sabia, já que eram amigos  que eu queria uma certa distância...

Acho que o brasileiro ao logo do tempo, aprendeu a sair do grupo e a de expulsar, a ter sua cultura no zap. Antes ficava com pena de expulsar alguém. Hoje não é sincero, não pergunta se pessoa  deseja continuar a inteirar ou não  no grupo, se a pessoa quer realmente fazer parte. Ele usa do seu autoritarismo à brasileira para separar-se os grupos.

Diferente de certas culturas mais sinceras, o brasileiro se ajustou em suas atitudes de se fechar em grupos e usar do autoritarismo quando se incomoda. Falo do brasileiro, por ver o desenvolvimento de comportamento de algumas nacionalidades nas redes sociais de grupos. Na sociologia das redes em tempos cibernéticos o brasileiro se mostra (melhor não generalizar) seus traços onde tudo é sentimento, a divisão dos bons e os maus, da separação dos que servem e os que não servem. Talvez seja simplesmente alguns idiotas com algum recalque....




viver é ajudar acima de tudo, é aceitar os presentes da vida

 Sempre carrego comigo o pensamento de que não deveria ser dependente de ninguém. Até aí nada demais, pois quase todos somos alertados a pensar assim quando pegamos uma carona com um amigo e esse amigo volta tarde além do planejado. De esperar os outros para nos arranjar emprego ou até mesmo uma companhia para uma corridinha para emagrecer. São diversos os exemplos.

Devemos sim ter esse pensamento de independência, e ele é extremamente importante para o nosso crescimento, sobretudo saber que somos sempre o capitão do nosso barco. 

No entanto, mesmo tendo essa certa independência dependemos de outros, como não pegar a carona com o amigo, mas o ônibus ou o taxi , uber. Precisamos do recrutador dos direitos humanos para arrumar esse emprego. Dizemos que precisamos de muita gente mesmo que indiretamente. 

Será que isso  tira o rótulo da sociedade capitalista onde a lógica é o mercado?ou talvez nos monstra que precisamos de alguém somente quando o precisamos de fazer grana?

será que a concepção de que o mundo capitalista é realmente altruísta disfarçado de egoísta?

E quando perdemos tudo, tudo, até a roupa do corpo. Porque temos tanta vergonha em pedir ajuda a alguém?

Quando estamos com sede num lugar deserto, porque se envergonhar e pedir alguém uma água e um pão?


por que não aceitar um presente, um beijo e um abraço?porque isso seria sentir como um devedor?

Talvez essa vergonha esteja entranhada e  não percebemos. Somente através de experiências esporádicas percebemos essa cegueira.

Sentir a humilhação dos santos nos faz como eles, nos faz alvos de uma sociedade egoísta que vive alienada a certos paradigmas, um mundo utilitarista quase ao extrema que leva a guerras sem fim...Ao contrário ajudaríamos um ao outro mesmo de graça sem querer nada em troca, como os monges, os pedintes em frente a porta dos estabelecimentos, o andarilho, o viajante...

Até um morador de rua muitas vezes quando não tem o coração aberto e vive envergonhado, sentindo-se rebaixado não quer ajuda por medo de ter uma dívida.

será que o médico só assistirá o doente que pagou a conta?

será que vamos deixar quem passa fome e sede agonizar na solidão?

Quanto mais solidária uma comunidade é, mais paz ela tem, mais humanismo ela vive...