Um menino de rua largado nos traz a recordação da própria favela. Depois de marginalizados após a libertação, os escravos tentaram à muito custo sobreviver à sua maneira e sem nenhuma mão do despreocupado Estado. Foi com muito esforço que encontraram junto às montanhas e seus declives ou arredores longínquos onde daí fariam sua morada.
É acertado afirmamos que favelas fazem parte da cultura brasileira. Sua originalidade sem igual exerce forte influência no jeito de ser das pessoas e na lógica cultural, não só dentro da comunidade, mas fora dela também. A riqueza engrandece e aumenta a força de traços culturais . A figura do malandro do morro, do Zé carioca, dos eternos sambistas simbolizam e até conceituam- às vezes bem, às vezes mal- as favelas. O retrato juntado às suas generalizações, muitas vezes grosseiras, marginalizam e tentam deteriorar o que é de grande valor. Criadas, assim, à margem da cultura politicamente "correta", ela percorre caminhos fora da unanimidade, uma cultura sem governo, já que estes os desprezaram, fazem florescer a auto- suficiência e, assim, preenchem o vazio da necessidade de sobrevivência.
Há, pois, lugares em que, apesar de terem sido criados com sua cultura distantes da favela, sofrem mais ou menos influência. Naquela asfalto se mistura mais ao morro e os fazem uma extensão do seu corpo. Com efeito, vemos as raízes da bossa nova, da música em geral, da culinária e da literatura. O diferente se torna produto de exportação quando os estrangeiros percebem como é a vida sem governo, como as pessoas sobrevivem. E como o mal sempre anda às sombras do bem, a favela traz seus traços negativos, como o tráfico de drogas cuja as raízes são encontradas na ausência do Estado, assim criam um governo marginal, já que a necessidade de uma centralização- ao qual estamos ameaçados é constante e inevitável. Este, por sua vez, cresce livre sem barreiras, até tendo parte de sua população a favor dele por mais perigoso que seja. Efetivamente é fácil notar como a ojeriza ao Estado por parte dos moradores é contundente, basta uma ida aos arredores de qualquer favela do Rio de janeiro e perceber se há algum vestígio de governo.
De fato, parece-me que quando falo em ausência de governo, digo que não há nada, nenhum traço aparente dele, que não há alguma presença por mais incrédulo seja;Na verdade quero dizer que não há em presença o governo na mente dos moradores, pois só eles sabem como batalharam para ter o quem têm, só eles sabem por que passaram. Sei também que temos ideia do que passam, mas parece que não temos nenhuma noção, generalizando os fatos sem saber distinguir.
As cooperativas são exemplos de uma economia livre. Nem tanto, pois, apesar da fuga de impostos de alguns produtos e as trocas de mercadores e serviços entre as pessoas- há ainda alguns serviços que não se veem livres dos impostos governamentais.
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